José Murilo de Carvalho
possui pós-doutorado em duas universidades: na de Stanford, nos Estados Unidos,
e na de Londres. Membro da Academia Brasileira de Ciências, o historiador tem
uma trajetória profissional em diversas instituições de pesquisa, no Brasil e
no exterior, como, por exemplo, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
na École des Hautes Études em Sciences Sociales, no Instituto de Estudos
Avançados de Princeton, e nas Universidades de Londres, Oxford, Stanford,
Califórnia (Irvine) e Leiden (Holanda). Atualmente, leciona na Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde é professor do Departamento de História.
No que tange a sua obra, José Murilo de Carvalho conta com diversos livros
publicados, entre eles “Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que
não foi”, “Cidadania no Brasil: o longo caminho”, “A construção da ordem: a
elite política imperial”, “A formação das almas: o imaginário da República no
Brasil” e “Teatro de sombras: a política imperial”.
José Murilo de Carvalho não
foi o único a escrever obras dentro dessa temática, de “A Formação das Almas”,
existem vários autores que compuseram uma historiografia ampla sobre o assunto,
e que foram utilizados por Carvalho na construção de seu livro. Dessa
historiografia destacamos: Raoul Girardet, Paulo Miceli e Suely Robles Reis de
Queiroz. Carvalho manteve um diálogo constante com esses autores.
Em sua obra “Mitos
Mitologias e Políticas”, de 1987, Girardet discute sobre a criação e
importância dos mitos, e sua importante relação com a política. Carvalho também
faz essa relação entre os mitos e a política. Paulo Miceli, em “O Mito do Herói
Nacional”, de 1988, discorre acerca da criação e manipulação do herói da
pátria. Carvalho faz uma análise semelhante em a “A Formação da Alma”. Queiroz,
em obra intitulada “Os Radicais da república. Jacobinismo: idéia e ação,
1893-1897”, de 1986, faz uma análise do pensamento político dessa corrente
republicana, nesse período. Análise semelhante faz Carvalho na obra em pauta,
mostrando não só o pensamento político dos jacobinos, como o das outras
correntes republicanas.
O que dizem sobre a história de um país os monumentos
erguidos em praça pública? Ou as bandeiras e hinos nacionais? Ou, ainda,
caricaturas e charges tiradas das páginas de um jornal? José Murilo de Carvalho
mostra como esse material pode ser de grande utilidade para se decifrar à
mitologia e a simbologia de um sistema político. Por meio de imagens, o autor
nos oferece um curioso passeio pelo momento de implantação do regime republicano.
Entre texto e ilustrações, aprendemos como os mitos de origem criados para a
República, seus heróis, a bandeira verde-amarela e o nosso hino traduzem as
batalhas travadas pela construção de um rosto para a República brasileira.
As batalhas de símbolos e alegorias, parte integrante
das batalhas ideológicas e políticas. Tratava-se de uma batalha em torno da
imagem de um novo regime, cuja finalidade era atingir o imaginário popular,
para recriá-lo dentro dos valores republicanos. Essa batalha é o tema central
de “A Formação das Almas”. O autor mostra que símbolos e mitos por seu caráter
difuso, por sua leitura menos codificada, tornam-se elementos poderosos de
projeção de interesse, aspirações e medos coletivos. Na medida em que tenham
êxito em atingir o imaginário, podem também plasmar visões de mundo e modelar
condutas.
José Murilo de Carvalho, mostra de forma clara e
objetiva as batalhas travadas pelos jacobinos, liberais e positivistas na
criação dos hinos nacionais, das bandeiras, dos heróis e dos mitos da criação
da república. Como essas correntes influenciadas pelos americanos e pelos
franceses, tentaram de toda forma ganhar o imaginário social, através de
ideologias e utopias. Carvalho discute a fundo o conteúdo de alguns dos
principais símbolos utilizados pelos republicanos brasileiros e, na medida do
possível, avalia sua aceitação ou não pelo público a que se destinava, isto é,
sua eficácia em promover a legitimação do novo regime.
Justifica a discussão dos símbolos e seu conteúdo,
pois segundo ele, essa discussão poderá fornecer elementos preciosos para
entendermos a visão de república que lhes estava por trás, ou mesmo a visão de
sociedade, de história e do próprio ser humano. Essa discussão pode ser
particularmente importante para revelar as divergências e os conflitos entre as
distintas concepções de república então presente. Partindo do pressuposto de
que a aceitação ou rejeição dos símbolos propostos poderá revelar as raízes
republicanas preexistente no imaginário popular e a capacidade dos manipuladores
de símbolos de refazer esse imaginário de acordo com os novos valores. Segundo
Carvalho, a aceitação desses símbolos e sua eficácia política dependem da
existência de uma comunidade de imaginação, ou comunidade de sentido.
Inexistindo esse terreno comum, que terá sua origem no imaginário preexistente,
a relação de significado não se estabelece e o símbolo cai no vazio, se não no
ridículo, como aconteceu com a representação feminina da república, por
exemplo.
O livro “A Formação das Almas”, de José Murilo de
Carvalho, contém 166 páginas, divididas em agradecimentos, introdução, cinco
capítulos que estão subdivididos em tópicos, onde discorre sobre sua
fundamentação teórica, notas, fontes e índices das ilustrações.
No início, faz seus agradecimentos a seus
colaboradores. Introduz mostrando seus objetivos, suas idéias principais, suas
justificativas e pressupostos já comentados nessa resenha. No primeiro capítulo
o autor discute as diferentes idéias de liberdade dos republicanos, seus
desejos e utopias para a nova república, a herança imperial e sua influência na
república e o conceito de cidadania e estadania. No segundo capítulo é
discutido o mito de origem da república de acordo com os interesses de cada
corrente e personificado nas pessoas de Deodoro (república militar), Benjamin
Constant (república sociocrática) e Quintino Bocaiúva(república liberal). O
terceiro capítulo trata-se do mito do herói, sua criação e manipulação de
acordo com os desejos dos formadores do imaginário. Mostra Tiradentes, covarde
e herói, vilão e salvador, religioso e revolucionário, tudo de acordo com os
interesses das correntes republicanas, e porque Tiradentes foi nacionalmente
aceito como herói da pátria. No quarto capítulo discute a tentativa da
representação feminina da república. Como a aceitação do símbolo na França e a
rejeição no Brasil permitem mediante a comparação por contraste, esclarecer
aspectos das duas sociedades e das duas repúblicas. No quinto capítulo discute
a tentativa de criação e modificação da bandeira e do hino nacional, o peso da
herança da tradição imperial na formação desses símbolos. O último capítulo é
dedicado aos positivistas ortodoxos, por ter sido eles os maiores manipuladores
de símbolos do novo regime.
Para a elaboração dessa obra, José Murilo de Carvalho
utilizou uma bibliografia ampla e diversificada. Utilizou outras obras sua
como, “Os bestializados”, e obras de autores brasileiros e estrangeiros. Também
utilizou vários jornais e revistas da época, como: O Cruzeiro, O Paiz, O Mequetrefe,
Revistas do IHGB, Revista do Brasil etc. Utilizou ainda vários artigos teses e
folhetos. Por fim trabalhou com várias ilustrações retiradas de revistas,
jornais monumentos e museus. Esses recursos foram utilizados pelo autor em sua
fundamentação teórica para provar suas teses, justificar seus pressupostos e
resolver a problemática por ele proposta. Ou seja, a partir de todo esse
acervo, documentação e ilustração, ele faz uma análise da república a partir do
imaginário. Para isso ele utiliza uma linguagem simples e objetiva, facilitando
a leitura, além de utilizar várias ilustrações que facilitam a abstração.
De acordo com a investigação feita pelo autor em
livros e documentos que se propôs a estudar, eu acho que o resultado obtido foi
bem positivo, uma vez que, cumpriu seus objetivos. O livro é muito esclarecedor
a cerca da criação dos nossos símbolos e mitos. É muito relevante e indicado
para alunos que queiram conhecer a criação do imaginário da nossa república,
pois sem conhecer a origem dos nossos símbolos e mitos, se torna difícil
entender a criação da república brasileira.
Apesar da relevância já citada acima, eu penso que o
livro é reduzido em argumentos, uma vez que, como sabemos, cada capítulo desse
livro, para ser bem debatido e investigado, merece um livro a parte. Cada
capítulo é digno de um livro. Mas não é esse o objetivo do autor.
BIBLIOGRAFIA:
CARVALHO, José Murilo. A Formação das Almas: o
imaginário da república do Brasil. 7ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
166p.
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