sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A Conquista Espiritual da América Espanhola


Em princípio a conquista era subordinada e justificada pela evangelização. A descoberta de povos pagãos na América era um fato novo para os cristãos que desde a idade média não fora confrontada com a evangelização.
Os primeiros missionários tinham um zelo autoritário, mas também tinha uma corrente liberal representado pelos dominicanos las casas e seus discípulos que acreditavam que a única maneira de converter os pagãos era através da doçura, persuasão, exemplo de caridade e um longo contato. Três ordens mendicantes ficaram responsáveis pela evangelização dos autóctones: os franciscanos, os dominicanos e os agostinianos.
            Com o pedido de Cortês a Carlos V, desembarcaram em Ulua, em 1524, doze franciscanos. Os índios ao verem esses homens tão diferentes dos outros brancos, os receberam bem. Os missionários encontraram os índios traumatizados pela conquista e com suas crenças quase abolidas. Os missionários cuidaram em destruir todos vestígios pagãos, redigindo catecismo e doutrinas nas línguas indígenas. Bons pedagogos, apelaram para tradições musicais e pictóricas dos indígenas, adaptando melodia s dos autóctones com palavras de cânticos espanhóis e vice-versa. Se utilizavam também de retratos e desenhos. Separavam os índios dos espanhóis, pois esses eram mal exemplos, para isso agrupavam suas ovelhas em aldeias novas. Os missionários se opunham as invasões das terras dos índios.
            No reinado de Filipe II, os mendicantes perdem seu monopólio de evangelização na nova Espanha para os seculares e jesuítas, que chegaram em 1572. O alvo principal dos missionários foram os sacrifícios sangrentos e os cultos funerários dos silvícolas. A partir do 1º concílio de Lima os missionários receberam instruções de ameaçar os feiticeiros, impedir os suicídios e converter que os deuses dos índios eram demônios, entre outras. Em 1555, um concílio provincial proíbe os índios de exercer os sacerdócios. Quinze anos após a conquista a resistência continuava, muitos rituais e cerimônias eram realizados em segredos, em épocas de epidemias o paganismo ressurgia espetacularmente. Não houve um fracasso total na transmissão da fé, mas a igreja errou ao considerar os neófitos em eterna tutela.
            No capítulo 5, da página 89 a 101, da obra em questão, a conquista da América espanhola, a autora Marianne Mahn-Lot, trata da conquista espiritual, da evangelização dos índios conquistados pelos espanhóis. Através de uma leitura agradável e atrativa, uma linguagem simples, o uso de diversos documentos e citação de autores diversos, a autora fala dos métodos utilizados pelos missionários espanhóis para catequizar a nova Espanha, da resistência indígenas a evangelização e do sincretismo religioso.
            Por esse assunto não ser o único ou principal objetivo da autora, já que ela trata de vários aspectos diferentes relativos a conquista da América, e por cuidar do assunto em poucas linhas de um só capítulo de sua obra, não há um aprofundamento do assunto e uma maior valorização que o assunto requer.
            Analisando a obra da autora podemos perceber semelhanças da catequização espanhola com a catequização portuguesa. A seguir discorrerei a cerca de algumas delas dispostas pela autora. Os evangelizadores da América espanhola ( os franciscanos, os dominicanos, os agostinanos e os jesuítas ), foram os mesmos da América portuguesa. Os seus métodos pedagógicos para evangelizar também são os mesmos: destruir os cultos s rituais pagãos, edemonizar as divindades dos silvícolas e apresentar o Deus “verdadeiro” dos europeus. Para isso, redigiam catecismo e doutrinas nas línguas indígenas, adaptavam as melodias indígenas palavras de cânticos espanhóis e vice-versa, também se utilizavam de quadros e desenhos para o aprendizado. Tanto os evangelizadores espanhóis como os portugueses optaram por separar os autóctones dos conquistadores, que eram mal exemplo para os índios, para isso fundaram novas aldeias onde reunia os indígenas. Os catequizadores das duas Américas defendiam os interesses dos selvagens, se opondo aos interesses dos conquistadores. Em nenhuma das Américas os índios jamais exerceram o sacerdócio cristão, e sempre estiveram sob a tutela dos padres.
            Nas duas Américas houve resistência a essa conquista espiritual. Muitos anos após a conquista a cerimonias, os dogmas, o misticismo dos nativos resistiam e se confundiam com o cristianismo, dando origem a um sincretismo religioso. Um exemplo desse sincretismo, foi a aparição da virgem em 1531, exatamente no lugar de uma peregrinação a deusa tonantzin  “nossa mãe”. Essa aparição deu origem a adoração a Nossa Senhora de Guadalupe. Outro exemplo desse sincretismo foi a coincidência da data de corpus christi com a festa anual do sol, era uma oportunidades para práticas completamente ambíguas.
            A principal contribuição da autora é demonstrar que apesar da tentativa da religiosidade indígena, houve uma resistência espiritual por parte dos silvícolas que deu origem a um sincretismo religioso. Através desse sincretismo a fé dos índios trouxe um tom original ao tesouro da cristandade.





BIBLIOGRAFIA:

MAHN-LOT, Marianne. A conquista da América Espanhola; tradução Marina Appenzeller. Campinas, SP. Papirus, 1990.                           

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