sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Artigo - A mudança da Capital de Sergipe


Tendo lido os textos propostos pelo professor de História de Sergipe, Lindvaldo, e analisando alguns aspectos desse ato corajoso de Inácio Joaquim Barbosa, transferindo de São Cristóvão para Aracaju, em 17 de março de 1855, a capital da província. E sendo esse ato de Inácio Barbosa de tamanho importância que segundo José Calazans da Silva, “ é o ponto mais estudado da nossa evolução histórica, depois das questões de limite com a Bahia.” (DA SILVA, 1992, p. 6).  Verdadeiramente se faz necessário uma análise dos principais aspectos geográfico, econômicos e políticos da província de sergipe nos dias conturbados dessa mudança histórica.
            O artigo que nos propomos a escrever não tem a pretensão de esclarecer todos esses aspectos citados acima, pois seria impossível tal façanha em um único artigo. O que tenho em mente e tentarei passar para os leitores, com clareza, são os aspectos geográficos e seus determinantes que influenciaram na escolha do estuário do rio Sergipe para sede da nova capital e porto da província. Logicamente que não se pode falar dos aspectos geográficos sem relatar  os interesses políticos e econômicos inerentes a esse assunto. Porém, quero de antemão, deixar bem claro, que esses aspectos políticos e econômicos não serão abordados de forma profícua, nem darei toda atenção merecida pelos temas, pois não é esse o meu objetivo, como já falei anteriormente.
            Farei uma abordagem acerca das vantagens e desvantagens dos aspectos geográficos, tanto de São Cristóvão, como do povoado Santo Antônio do Aracaju, que era o pretenso local para onde Inácio Barbosa desejava fixar a nova capital e o porto. Analisando não só a geografia dessas duas concorrentes, como também as tendências geográficas das principais capitais das províncias do Brasil império, e como essas tendências influenciaram de forma decisiva na mudança da capital.
            Vejamos o quadro geográfico da região de Aracaju em 1855. Aracaju se encontrava numa região acidentada, cheia de areais, dunas, lagoas, riachos e pântanos que eram propícios para a proliferação dos mosquitos causadores de febre. Não possuía nenhum tipo de saneamento básico, como água encanada, rede de esgoto ou qualquer outro tipo de profilaxia. Aracaju possuía grandes zonas inundadas e pequenos brejos. As casa em Aracaju eram feitas de palhas. Algumas casas eram feitas de taipa com telhado de palhas, muito distante uma da outra. Para os moradores de São Cristóvão a cidade que surgia tão timidamente em região tão desfavorável não merecia sequer as honras de povoação:

Aracaju não é cidade

 nem também povoação
 tem casinhas de palha
 revestida de melão.(apud DA SILVA, 1992, p. 79)
A grande vantagem da povoação de Santo Antônio do Aracaju era geográfica e econômica, pois nesse caso as duas estavam intimamente ligados. A povoação estava situada na barra do cotinguiba, que era o principal escoadouro de açúcar. E desse açúcar dependia toda a estrutura econômica da província.
            Vejamos São Cristóvão, geograficamente, e analisemos também suas vantagens e desvantagens. Os habitantes de São Cristóvão se orgulhavam dos seus conventos coloniais, das suas igrejas seculares, dos seus sobrados patriarcais e do imponente palácio presidencial, que para eles era um dos melhores do império. São Cristóvão encontrava-se ao fundo do rio Paramopama, mal acessível até mesmo para as menores embarcações. Construída no topo de um estreito contra-forte , rodeada de encostas íngremes, terminando em vales estreitos que oferecia grande dificuldade para a expansão. Deixemos o próprio Inácio Barbosa falar.“ São Cristóvão apesar de seus duzentos e cinqüenta anos de existência, não passava de um grande povoado, visivelmente em decadência.” (apud DA SILVA, 1992, p. 65).
 Ruas sem calçamento, estreitas, tortuosas. Não existe um chafariz, nem uma fonte pública. Apanhava-se água nas vertentes. No Una, no Prata, no São Gonçalo. A iniciativa particular quase inexistente, limitava-se a pequenos reparos nas casas velhas. (apud DA SILVA, 1992, P. 65).
            A cidade tinha um comércio modestíssimo, a navegação do rio Paramopama dependia das cheias das marés. O porto declinava por não admitir a navegação de navios de maior calado. Tendo em vista tudo que foi exposto, parecia inviável manter a capital em uma cidade incapaz de atender os reclamos e as idéias da época.
            Faremos agora uma análise da mudança da localização das cidades brasileiras, no século XIX. Pois entendo que essa análise será muito importante para compreender melhor essa mudança de localização da capital baseada na questão geográfica. As cidades coloniais eram fundadas sempre em locais alto, que propiciasse a observação e a defesa dos inimigos. Era o estilo português de cidades-fortalezas. São Cristóvão é um exemplo vivo dessa cidade-fortaleza. Sua primeira fundação se deu junto a foz do rio Sergipe, local inadequado para uma boa defesa dos inimigos que vinham do mar. Essa constante ameaça de ataque forçou sua mudança em 1595 ou 96, para um outeiro a margem direita do rio Poxim, anos depois mudou-se definitivamente para o local onde está hoje, as margens do rio Paramopama.
Mas no século XIX, ao contrário do que ocorreu com a maioria das povoações coloniais, as cidades se aproximam do mar e descem as planícies, passando de cidades-fortalezas  a cidades-portos. Além disso existia  ainda a tendência, que também é pertinente a nossa pesquisa, de que a capital devia exercer um forte controle das outras regiões econômicas da província. Isso significa dizer que as capitais das províncias deveriam situar-se à beira mar ou as margens dos rios mais importante, onde fosse possível a construção de um porto capaz de receber as mais diversa embarcações, de pequeno e de grande calado. Levando em consideração as análises que fizemos acerca das cidades de São Cristóvão, do povoado do Santo Antônio do Aracaju e das tendências vigentes, da proximidade das cidades do litoral, no Brasil. Nos parece que, tudo conspirava, contra a permanência da capital da província de Sergipe, em São Cristóvão, e a favor da mudança para Aracaju. Mas ao que me parece, o fator realmente decisivo para a mudança da capital, de São Cristóvão para Aracaju, tenha sido o fato de São Cristóvão está localizada as margens de um rio não propício para a navegação de embarcações de grande calado. Senão vejamos alguns dados estatístico:
· Movimento de saída de navios de julho de 1850 a junho de 1853, nas barras das províncias:
            * Barra do rio Cotinguiba    716
            * Barra do  rio Real    206
            * Barra do Vaza Barris    81
· Valor em toneladas dos produtos exportados no mesmo período:
            * Barra do rio Cotinguiba    84.983
*        Barra do rio real  -  18.204
*        Barra do rio Vaza Barris  -  8.653
· Valor total das exportações em 1852- 1853:
            * Barra do rio Cotinguiba  -  2.475: 940$906
            * Barra do rio Real  -  656: 371$ 890
            * Barra do rio S. Francisco  -  277: 235$ 636
* Barra do rio Vaza Barris  -  168: 123$560.(apud DA SILVA, 1992, p. 65-66).
Analisando os dados estatísticos acima percebe-se facilmente a importância da barra do Cotinguiba, onde situava-se Aracaju, e a decadência do Vaza Barris, cujo rio São Cristóvão dependia para suas exportações.
            Tendo o Cotinguiba vencido a concorrência com os outros rios, restava apenas escolher a região onde se deveria instalar a nova capital. “Maroim, Santo Amaro e Laranjeiras, as mais importantes regiões do Cotinguiba, ficavam ao fundo de rios interiores (...). Estância além de não possuir um bom porto, ficava fora da zona açucareira (...).” (apud DA SILVA, 1992, p.66-67).  “ Somente a barra do Cotinguiba, expunha Inácio Barbosa, domina uma extensa porção do recôncavo e possue um ancoradouro vasto, profundo e abrigado.”(apud DA SILVA, 1992, p. 67). A questão que ficava agora, entre Aracaju e Barra dos Coqueiros, foi logo resolvida por Inácio Barbosa:
 Para mim, assegurava o Dr. Barbosa, é incontestável que a capital deve do lado em que está situado o povoado do Aracaju, quer porque tem muito boas aguas e é muito salubre e ventilado, tendo nos fundos o fértil Município do Socorro, ao passo que a dos coqueiros tem clima ardentíssimo, é falto de aguas e tem nos fundos o municípios do Santo Amaro que estéril e decadente, quer porque tem uma mais curta  comunicação por terra com a cidade de laranjeiras e outros ricos povoados, sem lhe faltar a comunicação fluvial (sic). (apud DA SILVA, 1992, p. 67).
            Em 17 de março de 1855, o povoado Santo amaro do aracaju foi elevado a categoria de cidade, com o nome de Aracaju, e tornou-se a nova capital da província de sergipe. Penso que foi exposto nesse artigo informações valorosas para o entendimento sobre a mudança da capital de São Cristóvão para Aracaju. Observando os aspectos geográficos e seus determinantes para essa mudança. Claro que existem diversos outros aspectos a serem observados, como: o econômico, o político, e quem sabe até mesmo, questões pessoais que favorecia a um ou outro indivíduo. Quanto aos dois aspectos citados acima, sabemos que também foram decisivo, já o terceiro foi improvável. Mas esses outros aspectos certamente fará parte das pesquisas de outros graduandos, graduados, professores etc. Já a parte que nos propomos pesquisar me parece de bom tamanho para os iniciantes.




BIBLIOGRAFIA:


*        WYNNE, João Pires. História de Sergipe ( 1575-1930 ). Rio de Janeiro. Pongetti. S.D.V.1.
*        SOUZA, Antônio Lindvaldo. Disciplina e Resistência. Cotidiano dos Operários Têxteis em Aracaju ( 1910-1930 ). Monografia para o Curso de Bacharelado em História da U.F.S. 1990. Inédito.
*        SILVA, José Calazans. Aracaju e outros Temas Sergipanos. Aracaju. Fundesc.1992.
*        FREIRE, Felisbelo. História de Sergipe. 2ª ed. Petrópolis. Vozes, Aracaju. Governo do Estado de Sergipe, 1977.
*        PORTO, Fernando Figueiredo. A Cidade do Aracaju ( 1855-1865 ). Ensaio de Evolução Urbano. 2ª ed. Aracaju: Governo de Sergipe/Fundesc, 1991.

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