Johann
Mauritius Van Nassau Siegen nasceu em dillenburg, Alemanha, em 1604 e morreu em
Kier, Alemanha, em 1679. Era sobrinho-neto do Principe Guilherme de Orange,
governador provincial da Holanda.
Coronel
de cavalaria, ele governou o Brasil Holandes de 1637 a 1644.
Notavel
administrador, Nassau modificou o sistema das camaras municipais,
substituindo-o pelo dos conselhos de escabino, dividiu o Brasil holandes em
administracoes distritais, desapropriou e alienou os engenhos de acucar
abandonados pelos seu proprietarios, proibiu os juros extorsivos ao setor
agricola e instaurou um clima de relativa tolerancia religiosa.
O
Recife substituiu Olinda como capital pernambucana e a cidade foi inteiramente
remodelada, com o aproveitamento dos rios, abertura de canais, construcoes de
pontes e novos palacios.
Da
europa Nassau trouxe pintores, como Franz Post, Albert Eckhout e Zacarias
wagener. Trouxe cartografos, como CorneliusGolijath, astronomo como Georg Maregrare, dentre outros
artistas que ajudaram a embelezar Recife.
Em
razao de divergencias com a companhia das indias- sobre tudo contra o rigor na
cobranca dos financiamentos aos senhores de engenhos- Nassau partiu para a
europa em maio de 1644. E deixou, ao sucessor, recomendacoes para o seu
governo.
O
documento que estamos analisando trata-se de uma carta ou testamento escrito em
Recife, em 6 de maio de1644, deixado por Nassau quando este teve que deixar o
governo da capitania de Pernambuco por causa de algumas divergencias com a
companhia das indias ocidentais. Mais eu acho que se torna nacessario uma maior
localizacao e um maior esclarecimento dos acontecimentos para um melhor
entendimento do assunto.
A
montagem do empreendimento acucareiro no Brasil colonia contou com o
financiamento dos holandeses, pois a burguesia lusitana estava em crise por
causa do declinio das especiarias, nas primeiras decadas do seculo XVI. Não
havia disponibilidade de capitais para bancar a empresa agricola acucareira.
Entao, maquinaria para os engenhos, pecas, ferramentas e o trafico de escravos
era financiado pelos flamengos. Em troca disso os holandeses executavam o
refino, comercializavam e distribuiam o acucar na europa. Como o comercio era
mais lucrativo do que a producao, os holandeses ficavam com a maior parte dos
lucros.
Em
1578, Dom Sebastiao, rei de portugual, desaparece numa batalha com os
mulcumanos, na Africa. Filipe II, rei da Espanha e sobrinho de Dom Sebastiao,
reclama a heranca da coroa portuguesa. No entanto o cardeal Dom Henrique, tio
de Dom Sebastiao sobe ao trono. Filipe II, com suas tropas invadem Portugual
tomando o trono e proclamando, em 1580 a uniao iberica. Como a Espanha e a
Holanda eram inimigas, Filipe II proibiu a venda do acucar brasileiro para os
holandeses. Proibiu tambem os flamengos de realizarem qualquer atividade
mercantil em portos portugueses. Em
reacao os holandeses praticaram a pirataria e criaram duas companhia de
comercio. A Companhia das Indias Orientais e a Companhia das Indias Ocidentais.
Apesar da reacao holandesa, o embargo espanhol desmantelou o comercio
acucareiro holandes na europa.
E
como já disse, os holandeses investiram muito nesse comercio, por isso resolvem
invadir o Brasil. Sabemos que foram duas as invasoes holandesas no Brasil,
trataremos apenas da Segunda invasao, que nos levara ao nosso objeto de
interesse.
A
Segunda invasao se deu em Pernmbuco que era o centro economico da colonia e
maior produtor de acucar, em 1630. Passando a fase da conquista, vamos direto a
fase da acomodacao, nessa fase a administracao de Pernambuco ficou a cargo do
conde Mauricio de Nassau. Nassau demonstrou ser um excelente administrador,
ofereceu aos proprietarios de engenhos emprestimos para recuperarem a plantacao
, maquinaria e escravos. Nassau soube conviver com os catolicos, autorizando
construcoes de igrejas e respeitando seus rituais. Embelezou Recife com
palacios, pontes, alem de trazer cientistas europeus com o objetivo de estudar
a terra tropical para melhor dominar as diferencas geograficas e economicas,
tornando mais eficiente a exploracao do Brasi.
Nassau
procurou uma convivencia pacifica com os colonos, conforme convinha aos
interesses da compainhia das indias ocidentais, da qual era um dos
investidores. Sua habilidade politica teve como resultado a retomada da
producao a niveis melhores que os da fase da conquista, conseguindo aumentar a
area da plantacao.
Entretanto,
comeca a haver nessa epoca, um declinio da economia holandesa por conta da
guerra dos trinta anos, entre Espanha e Holanda. A Holanda buscou o maximo de
recurso financeiro para enfrentar a crise. A companhia das indias elevou a
producao e os impostos acucareiros, não tolerou atrasos nos pagamentos dos
emprestimos e aumentou os juros dos emprestimos aos colonos brasileiros. Nassau
que sabia das dificuldades dos senhores dos engenhos não aceitou as exigencias
da conpanhia das indias e alertou os holandeses que as novas orientacoes
economicas provocaria insatisfacao e luta armada dos colonos com os flamengos.
Não atendendo as exigencias economicas da companhia das indias Nassau e mandado
de volta a Holanda. Uma junta de tres holandese sucedeu Nassau na administracao
da colonia. Antes de partir Nassau deixa uma carta testamento com conselhos
para seus sucessores, esses conselhos não são seguidos e os holandeses são
expulsos de Pernambuco.
Tendo
entendido o contexto em que se encontra o documento, nos voltaremos para a
analise da carta. Nassau endereca a sua carta aos nobres, seus sucessores.
Trata-se de orientacoes, que segundo Nassau, se seguidas, os resultados serao
bons em tempo de guerra ou de paz. Nassau orienta seus sucessores a como tratar
com os setores militar, civil e eclesiastico. Orientacoes que ele mesmo seguiu
sempre que possivel. A seguir detalharemos as instrucoes para os tres setores
citados acima.
Quanto
aos militares mantenham a honra e o respeito que lhes pertence. Suas audiencias
e despachos de seus requerimentos devem ser atendidos rapidamente para não lhes
causar insatisfacao pois, segundo nassau, no Brasil os soldados se ressentem
mais rapido do que em qualquer outro lugar. Por mais que seja a estreiteza
não pode deixar faltar o necessario para
os oficiais, pois a privacao os fazem rapidamente esquecer o respeito. Não
devem ser compassivos com os delitos dos soldados, pois a impunidade os
corromperiam. Devem tratar os oficiais de forma cortes, sem admitir a
familiaridade, pois as relacoes intimas são causas de desordens.
Nassau
aconselha que se tenha informantes fieis, atraves de dinheiro e favores, e os
melhores seriam os padres.Recomenda cuidado nas confissoes por torturas, pois
sob elas varias mentiras são ditas. Cuidar dos fortes, mantendo-os providos de
municoes. Recomenda algumas obras como o jardim de Aryburch, de onde se tira
varios tipos de refrescos, a necessidade de um reduto diante da ponte de boa
vista e a importancia da ponte que liga Recife e a ilha de Antonio Vaz. Não
convem desgostar o governador da Bahia por pequenos motivos, pois tem muito em
atencao a correspondencia e a cortesia. Devem proceder com rigor com os
portugueses traidores e Ter cuidado para não irritar os portugueses. So
permitir o uso de armas a quem portar documento assinado pelo proprio Nassau.
Quanto
a materia civil, devem assinar os despachos das peticoes, se não cairao no
descredito e no odio publico. Tratem os portugueses com cortesia e benevolencia
e eles lhes serao sempre submissos. Suspeitem das acusacoes dos militares
contra os portugueses, pois a milicia são a eles desafetos. Não lancem novos
impostos, pois os tributos geram indisposicoes com o povo. Ter cuidado para não
esgotar o dinheiro corrente do pais, pois este e o musculo e o nervo do corpo,
sem o qual nenhuma forca se pode Ter.
Np
tocante a igreja, a tolerancia e mais necessaria no Brasil do que em qualquer
outro lugar, no que diz respeito a liberdade religiosa. Não se deve introduzir,
agora, entre os portugueses a religiao holandesa, nem muito menos abolir seus
ritos e cerimonias. Tambem não convem que se envolvam em suas disciplinas
eclesiasticas, deixem isso com os padres e vigarios. Não devem admitir queixas
particulares em materia de religiao. Segundo Nassau, por colocar em praticas
essas instrucoes, foi respeitado e amado pelas duas nacoes. Suas instrucoes não
foram seguidas, em vez disso a junta holandesa trouxe opressao e cobranca,
causando grande insatisfacao ao povo. Isso resultou na expulsao dos holandeses
de Pernambuco em 1654.
Lendo
sobre a administracao de Mauricio de Nassau e analizando sua carta testamento
deixada para os seus sucessores antes de seu regresso para a holanda, podemos
perceber que Nassau fazia separacao e tratavas de forma diferente a igreja e o
estado. Como governador, representante do estado, nassau concedeu liberdade de
religiao aos colonos, buscando não intervir nos assuntos religiosos. Devemos
lembrar que naquele momento, no Brasil,
não tinha-mos apenas a religiao catolica dos portugueses e o protestantismo dos
holandeses. Tinha-mos tambem os negros, com seus cultos e rituais
diversificados, e os indios que, apesar da catequizacao portuguesa, mantinha
raizes de sua religiao original. Ao contrario dos portugueses que impunham sua
religiao aos dominados, Nassau não se preocupava em impor sua religiao aos colonos e ainda aconselhou seus
sucessores que, não convinha que a pratica da religiao protestante fosse
abertamente introduzida. Isso não quer dizer que futuramente, com a manutencao
do dominio holandes na regiao, sua religiao não fosse imposta, mas que aquele
não era o momento propicio para isso.
Nassau,
tambem não se envolvia nas disciplinas eclesiastica e no que disto dependia,
antes deixava esses assuntos para que os proprios eclesiasticos resolvessem.
Nassau achava que se envolver em questoes religiosas e prematuro e sem
utilidade a reputacao. Vai ainda mais alem quando diz que não nada em que
meter-se o governo secular com as questoes religiosas. Foi esse o perfil que
Nassau adotou como administrador da capitania de Pernambuco, de 1637 a 1644.
Nassau
intervia e demonstrava seu poder de governador da provincia em todos os
setores, tanto o economico, o militar, o civil e em todos outros que fossem
necessario. Mas quando se tratava de religiao e dos assuntos inerentes a ela,
Nassau preferia a neutralidade. Essa neutralidade era, com certeza, uma forma
politica que Nassau adotou para não descontentar os colonos, facilitar a
dominacao holandesa e administrar com maior apoio dos provinciais. De forma
muito racional, Nassau conseguiu administrar por sete anos a capitania de
Pernambuco, agradando tanto catolicos, como protestantes.
BIBLIOGRAFIA.
·
NASSAU, Mauricio de. Testamento Politico (1644 ). IN.
PORTO, Valter Costa. ( org ). Conselhos
aos governantes. Brasilia, Senado Federal, 1998. P. 507-514.
·
SILVA, Francisco de Assis, Historia do Brasil. 1
edicao. São Paulo, editora moderna,1992. p.66-68.
·
MATOS, Clarence Jose de. Historia do Brasil. 1 edicao.
São Paulo, editora nova cultural, 1993. p. 14-16.
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