sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Artigo - Maurício Nassau


Johann Mauritius Van Nassau Siegen nasceu em dillenburg, Alemanha, em 1604 e morreu em Kier, Alemanha, em 1679. Era sobrinho-neto do Principe Guilherme de Orange, governador provincial da Holanda.
Coronel de cavalaria, ele governou o Brasil Holandes de 1637 a 1644.
Notavel administrador, Nassau modificou o sistema das camaras municipais, substituindo-o pelo dos conselhos de escabino, dividiu o Brasil holandes em administracoes distritais, desapropriou e alienou os engenhos de acucar abandonados pelos seu proprietarios, proibiu os juros extorsivos ao setor agricola e instaurou um clima de relativa tolerancia religiosa.
O Recife substituiu Olinda como capital pernambucana e a cidade foi inteiramente remodelada, com o aproveitamento dos rios, abertura de canais, construcoes de pontes e novos palacios.
Da europa Nassau trouxe pintores, como Franz Post, Albert Eckhout e Zacarias wagener. Trouxe cartografos, como CorneliusGolijath,  astronomo como Georg Maregrare, dentre outros artistas que ajudaram a embelezar Recife. 
Em razao de divergencias com a companhia das indias- sobre tudo contra o rigor na cobranca dos financiamentos aos senhores de engenhos- Nassau partiu para a europa em maio de 1644. E deixou, ao sucessor, recomendacoes para o seu governo.
O documento que estamos analisando trata-se de uma carta ou testamento escrito em Recife, em 6 de maio de1644, deixado por Nassau quando este teve que deixar o governo da capitania de Pernambuco por causa de algumas divergencias com a companhia das indias ocidentais. Mais eu acho que se torna nacessario uma maior localizacao e um maior esclarecimento dos acontecimentos para um melhor entendimento do assunto.
A montagem do empreendimento acucareiro no Brasil colonia contou com o financiamento dos holandeses, pois a burguesia lusitana estava em crise por causa do declinio das especiarias, nas primeiras decadas do seculo XVI. Não havia disponibilidade de capitais para bancar a empresa agricola acucareira. Entao, maquinaria para os engenhos, pecas, ferramentas e o trafico de escravos era financiado pelos flamengos. Em troca disso os holandeses executavam o refino, comercializavam e distribuiam o acucar na europa. Como o comercio era mais lucrativo do que a producao, os holandeses ficavam com a maior parte dos lucros.
Em 1578, Dom Sebastiao, rei de portugual, desaparece numa batalha com os mulcumanos, na Africa. Filipe II, rei da Espanha e sobrinho de Dom Sebastiao, reclama a heranca da coroa portuguesa. No entanto o cardeal Dom Henrique, tio de Dom Sebastiao sobe ao trono. Filipe II, com suas tropas invadem Portugual tomando o trono e proclamando, em 1580 a uniao iberica. Como a Espanha e a Holanda eram inimigas, Filipe II proibiu a venda do acucar brasileiro para os holandeses. Proibiu tambem os flamengos de realizarem qualquer atividade mercantil em portos  portugueses. Em reacao os holandeses praticaram a pirataria e criaram duas companhia de comercio. A Companhia das Indias Orientais e a Companhia das Indias Ocidentais. Apesar da reacao holandesa, o embargo espanhol desmantelou o comercio acucareiro holandes na europa.
E como já disse, os holandeses investiram muito nesse comercio, por isso resolvem invadir o Brasil. Sabemos que foram duas as invasoes holandesas no Brasil, trataremos apenas da Segunda invasao, que nos levara ao nosso objeto de interesse.
A Segunda invasao se deu em Pernmbuco que era o centro economico da colonia e maior produtor de acucar, em 1630. Passando a fase da conquista, vamos direto a fase da acomodacao, nessa fase a administracao de Pernambuco ficou a cargo do conde Mauricio de Nassau. Nassau demonstrou ser um excelente administrador, ofereceu aos proprietarios de engenhos emprestimos para recuperarem a plantacao , maquinaria e escravos. Nassau soube conviver com os catolicos, autorizando construcoes de igrejas e respeitando seus rituais. Embelezou Recife com palacios, pontes, alem de trazer cientistas europeus com o objetivo de estudar a terra tropical para melhor dominar as diferencas geograficas e economicas, tornando mais eficiente a exploracao do Brasi.
Nassau procurou uma convivencia pacifica com os colonos, conforme convinha aos interesses da compainhia das indias ocidentais, da qual era um dos investidores. Sua habilidade politica teve como resultado a retomada da producao a niveis melhores que os da fase da conquista, conseguindo aumentar a area da plantacao.
Entretanto, comeca a haver nessa epoca, um declinio da economia holandesa por conta da guerra dos trinta anos, entre Espanha e Holanda. A Holanda buscou o maximo de recurso financeiro para enfrentar a crise. A companhia das indias elevou a producao e os impostos acucareiros, não tolerou atrasos nos pagamentos dos emprestimos e aumentou os juros dos emprestimos aos colonos brasileiros. Nassau que sabia das dificuldades dos senhores dos engenhos não aceitou as exigencias da conpanhia das indias e alertou os holandeses que as novas orientacoes economicas provocaria insatisfacao e luta armada dos colonos com os flamengos. Não atendendo as exigencias economicas da companhia das indias Nassau e mandado de volta a Holanda. Uma junta de tres holandese sucedeu Nassau na administracao da colonia. Antes de partir Nassau deixa uma carta testamento com conselhos para seus sucessores, esses conselhos não são seguidos e os holandeses são expulsos de Pernambuco.
Tendo entendido o contexto em que se encontra o documento, nos voltaremos para a analise da carta. Nassau endereca a sua carta aos nobres, seus sucessores. Trata-se de orientacoes, que segundo Nassau, se seguidas, os resultados serao bons em tempo de guerra ou de paz. Nassau orienta seus sucessores a como tratar com os setores militar, civil e eclesiastico. Orientacoes que ele mesmo seguiu sempre que possivel. A seguir detalharemos as instrucoes para os tres setores citados acima.
Quanto aos militares mantenham a honra e o respeito que lhes pertence. Suas audiencias e despachos de seus requerimentos devem ser atendidos rapidamente para não lhes causar insatisfacao pois, segundo nassau, no Brasil os soldados se ressentem mais rapido do que em qualquer outro lugar. Por mais que seja a estreiteza não  pode deixar faltar o necessario para os oficiais, pois a privacao os fazem rapidamente esquecer o respeito. Não devem ser compassivos com os delitos dos soldados, pois a impunidade os corromperiam. Devem tratar os oficiais de forma cortes, sem admitir a familiaridade, pois as relacoes intimas são causas de desordens.
Nassau aconselha que se tenha informantes fieis, atraves de dinheiro e favores, e os melhores seriam os padres.Recomenda cuidado nas confissoes por torturas, pois sob elas varias mentiras são ditas. Cuidar dos fortes, mantendo-os providos de municoes. Recomenda algumas obras como o jardim de Aryburch, de onde se tira varios tipos de refrescos, a necessidade de um reduto diante da ponte de boa vista e a importancia da ponte que liga Recife e a ilha de Antonio Vaz. Não convem desgostar o governador da Bahia por pequenos motivos, pois tem muito em atencao a correspondencia e a cortesia. Devem proceder com rigor com os portugueses traidores e Ter cuidado para não irritar os portugueses. So permitir o uso de armas a quem portar documento assinado pelo proprio Nassau.
Quanto a materia civil, devem assinar os despachos das peticoes, se não cairao no descredito e no odio publico. Tratem os portugueses com cortesia e benevolencia e eles lhes serao sempre submissos. Suspeitem das acusacoes dos militares contra os portugueses, pois a milicia são a eles desafetos. Não lancem novos impostos, pois os tributos geram indisposicoes com o povo. Ter cuidado para não esgotar o dinheiro corrente do pais, pois este e o musculo e o nervo do corpo, sem o qual nenhuma forca se pode Ter.
Np tocante a igreja, a tolerancia e mais necessaria no Brasil do que em qualquer outro lugar, no que diz respeito a liberdade religiosa. Não se deve introduzir, agora, entre os portugueses a religiao holandesa, nem muito menos abolir seus ritos e cerimonias. Tambem não convem que se envolvam em suas disciplinas eclesiasticas, deixem isso com os padres e vigarios. Não devem admitir queixas particulares em materia de religiao. Segundo Nassau, por colocar em praticas essas instrucoes, foi respeitado e amado pelas duas nacoes. Suas instrucoes não foram seguidas, em vez disso a junta holandesa trouxe opressao e cobranca, causando grande insatisfacao ao povo. Isso resultou na expulsao dos holandeses de Pernambuco em 1654.
Lendo sobre a administracao de Mauricio de Nassau e analizando sua carta testamento deixada para os seus sucessores antes de seu regresso para a holanda, podemos perceber que Nassau fazia separacao e tratavas de forma diferente a igreja e o estado. Como governador, representante do estado, nassau concedeu liberdade de religiao aos colonos, buscando não intervir nos assuntos religiosos. Devemos lembrar que naquele momento, no  Brasil, não tinha-mos apenas a religiao catolica dos portugueses e o protestantismo dos holandeses. Tinha-mos tambem os negros, com seus cultos e rituais diversificados, e os indios que, apesar da catequizacao portuguesa, mantinha raizes de sua religiao original. Ao contrario dos portugueses que impunham sua religiao aos dominados, Nassau não se preocupava  em impor sua religiao  aos colonos e ainda aconselhou seus sucessores que, não convinha que a pratica da religiao protestante fosse abertamente introduzida. Isso não quer dizer que futuramente, com a manutencao do dominio holandes na regiao, sua religiao não fosse imposta, mas que aquele não era o momento propicio para isso.
Nassau, tambem não se envolvia nas disciplinas eclesiastica e no que disto dependia, antes deixava esses assuntos para que os proprios eclesiasticos resolvessem. Nassau achava que se envolver em questoes religiosas e prematuro e sem utilidade a reputacao. Vai ainda mais alem quando diz que não nada em que meter-se o governo secular com as questoes religiosas. Foi esse o perfil que Nassau adotou como administrador da capitania de Pernambuco, de 1637 a 1644.
Nassau intervia e demonstrava seu poder de governador da provincia em todos os setores, tanto o economico, o militar, o civil e em todos outros que fossem necessario. Mas quando se tratava de religiao e dos assuntos inerentes a ela, Nassau preferia a neutralidade. Essa neutralidade era, com certeza, uma forma politica que Nassau adotou para não descontentar os colonos, facilitar a dominacao holandesa e administrar com maior apoio dos provinciais. De forma muito racional, Nassau conseguiu administrar por sete anos a capitania de Pernambuco, agradando tanto catolicos, como protestantes.   
                      


BIBLIOGRAFIA.

·         NASSAU, Mauricio de. Testamento Politico (1644 ). IN. PORTO, Valter Costa. ( org ).  Conselhos aos governantes. Brasilia, Senado Federal, 1998. P. 507-514.
·         SILVA, Francisco de Assis, Historia do Brasil. 1 edicao. São Paulo, editora moderna,1992. p.66-68.
·         MATOS, Clarence Jose de. Historia do Brasil. 1 edicao. São Paulo, editora nova cultural, 1993. p. 14-16.






                                                          

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